Revista Supermix – Qual a sua avaliação entre o que foi dito da economia em 2012 e o que aconteceu?
Mauricio Bendixen – Havia uma expectativa de retomada de crescimento e redução de inflação que não ocorreram. Quando analisamos a economia brasileira num período mais longo, fica evidente a queda prolongada, o crescimento do PIB de 2010 foi de 7,5%, em 2011 ficou em 2,7% e temos previsões de fechar próximos a 1,5% neste ano de 2012, portanto estamos em queda livre a três anos. Paralelo a isso a taxa de inflação mantem-se teimosamente em 5,5% neste ano, 6,8% no mês ano passado e 5,9% em 2010. Fica claro que não avançamos no controle da inflação e que ela mais solta também não gerou crescimento. Foram esboçadas reformas, desonerações de folha de pagamento e impostos, investimentos pelo PAC, pelas obras, cortes de juros, mas nada disso foi possível de levar a um crescimento mais robusto. O modelo de incentivar o consumo para gerar crescimento parecer ter perdido força. Diria ainda que gerou inadimplência e já não agrega valor. Na verdade nossa economia vem num processo de manutenção a pelo menos 10 anos sem grandes mudanças estruturais e isso se ressente no desempenho. No cenário internacional tivemos os Estados Unidos com algumas notícias boas de crescimento de emprego, embora ainda modestas. A Europa o medo do impacto da dívida da Grécia, da Espanha, a garantia de apoio para manutenção do Euro, porém um cenário também de crise insolúvel no curto prazo. Desaceleração sentida na Índia e China.
Revista Supermix – Qual a perspectiva da economia para 2013?
Mauricio Bendixen – A princípio mantida a atual postura, não podemos esperar nada de novo no cenário econômico nacional. O modelo do crescimento via consumo parece ter se esgotado. Esse modelo que já gerou euforia, crescimento de renda, migração de classes, fortaleceu a classe média, parece não mostrar-se sustentável como motor da economia. Precisamos verdadeiramente de reformas tributárias, desonerações que atinjam os setores realmente produtivos da economia. Em nosso país temos o corporativismo da indústria muito forte e tudo se resume a reduzir impostos para poucos e que não tem refletido no impulso que precisamos, vejam só corta-se IPI e falta carros, isso leva a resultados consistentes e sustentáveis? Uma medida séria que atingisse o comércio e a agroindústria que geram muito mais emprego e renda para o país seria muito mais produtivo. Temos que entender que o Brasil ainda é a fazenda e não a indústria do mundo. Nossos pesados encargos, a falta de capacitação não vai nos tornar competitivos apenas com controle no câmbio, subsídios e redução de impostos. Sem falar na falta de bom senso, onde tirar destes setores vai implicar em onerar mais para outros setores da economia ou a conta não fecha. Defendo que a reforma deveria ser mais ampla e atingir os setores que mais empregam e que tem resposta mais rápida. Imagine esses incentivos no varejo um setor supercompetitivo e dos que mais geram empregos. Haveria redução de preços pela competição, com isso a inflação retrocederia menos impostos, mais crescimento e mais empregos. Na agricultura não seria diferente, mais produtividade, mais investimentos, menos custos e maior margem na venda das commodities. Fica, no entanto a perspectiva de um cenário igual ou mais do mesmo para 2013. O governo negocia redução no preço da energia, porém com dificuldades de negociações com as operadoras. Continua na queda de braço com os bancos pela queda de juros, porém essa queda também não refletiu em aumento de consumo pelo menos por enquanto. Vai continuar manipulando o dólar para manter acima dos dois reais. A Selic poderá, segundo especialistas, voltar a 8,5% caso não haja retrocesso na inflação, que ainda poderá ganhar folego um aumento de combustíveis necessária a Petrobras e o fim do incentivo do IPI. Lá fora não esperamos grandes novidades, deveremos ter avanços e recuos nos Estados Unidos, estagnação na Europa, o modelo chinês continua perdendo fôlego. Paul Krugman, Nobel de economia tem reforçado que passamos por um período de incerteza muito grande, de difícil resolução em curto prazo.
Revista Supermix – Como avaliar o momento certo para investimentos neste ano?
Mauricio Bendixen – O varejo supermercadista tem crescido acima da média do mercado, em 2010 foi de 4,18% em 2011 3,71% e 2012 projeta 5,18% este ano pelo índice da Abras já descontada a inflação, na verdade a força de crescimento do nosso setor historicamente se mantém acima do PIB a mais de uma década, mesmo durante a fase mais aguda da crise de 2008 o varejo supermercadista cresceu 9%. As empresas maiores tem patinado em suas estratégias. O Pão de Açúcar foi o único a crescer no último ranking. O Carrefour tem tido fraco desempenho, perdeu vendas com a separação das lojas do Dia e só a bandeira do Atacadão tem tido motivos para comemorar, o Walmart em busca de tentar mudar o conceito de compra dos consumidores brasileiros já admite que a velocidade desse processo deixa a desejar e que não será uma tarefa tão fácil. Os regionais, por serem mais rápidos, estarem mais próximos dos clientes e terem investido forte em tecnologia, tem crescido acima da média e batido os gigantes. O desempenho das redes regionais está muito acima do que os gigantes tem feito em qualquer indicador que possamos escolher. Acreditamos que os investimentos estarão mais concentrados em lojas que já estão em andamento e que inauguram no começo do próximo ano, assim como lojas novas para o segundo semestre. Londrina e Maringá serão palco de forte competição pelas regionais, novos investimentos nesta região merecem um estudo ainda mais aprofundado sobre o mercado, potencial de crescimento e expectativas de retorno.
Revista Supermix – De que forma este cenário irá impactar o setor supermercadista?
Mauricio Bendixen – Penso que nas cidades maiores do estado a competição vai ser mais forte ainda já que a conquista de mercado vai implicar em derrubar margens, reduzir custos e impactar ao rentabilidade das empresas. Esse cenário é o mais provável de praças como Curitiba, Londrina e Maringá. Existem empreendimentos de grande porte e que vão levar o mercado a buscar uma nova divisão de clientes. A população não aumenta em curto espaço de tempo na mesma proporção que cresceu a oferta de metros de área de vendas, por isso naturalmente haverá uma batalha acirrada até que se acomode novamente. Formato de loja tem sido decisivo também. O hiper caiu em vendas no Brasil 6,6%%, o super cresce no ritmo do mercado e o formato “atacarejo” parece ter se beneficiado da queda dos hipermercados, com seu modelo de baixo custo operacional e altas vendas por metro quadrado.
Revista Supermix – Como deve se comportar a situação de crédito e de que forma o varejista de pequeno, médio e grande pode tirar proveito deste cenário?
Mauricio Bendixen – O crédito sempre foi muito caro no Brasil, o varejista aprendeu a trabalhar sem ele. Nos momentos de crise aprendemos a administrar melhor nosso fluxo de caixa e buscar não se endividar. Mesmo com juros mais baixos banco ainda dá medo no supermercadista, ainda mais diante desta incerteza toda. Vale lembrar que o uso de recursos de bancos de fomento para novas lojas tem sido mais procurados nos últimos anos e essas linhas de crédito tem sido bem utilizadas. Esses recursos tem sido utilizados por empresas mais bem estruturadas e de maior porte. Não acredito que seja privilégio das maiores e sim falta de conhecimento ou de preparação adequada de planos de negócio para a busca destas linhas de financiamento pelas empresas de menor porte.
Revista Supermix – Quais os tipos de mercadorias de destaque para o consumo diante do que se espera para 2013?
Mauricio Bendixen – Acredito que ainda haja folego no segmento dos bens duráveis pela reposição e pela evolução tecnológica que torna obsoletos mais rapidamente estes produtos. As tendências do aumento de renda da nova classe C e B, a participação da mulher no mercado de trabalho e nosso ritmo de vida ainda vai dar impulso nas áreas de higiene e beleza, congelados, refeições prontas assim como a saudabilidade, melhor qualidade, alimentação fora de casa, e tudo o mais que já está valendo a algum tempo.
Revista Supermix – De que forma o contexto econômico impacta o consumo das diferentes classes sociais?
Mauricio Bendixen – Essa migração pelo aumento da renda e crédito tem levado a experimentar novos produtos, que por sua vez está gerando novos hábitos que vão se incorporando na rotina de consumo. Temos ainda a melhoria das lojas em sortimento, mix, formatos que tem tornado acessível por ofertas e promoções. Resumindo: Mais acesso a produtos de qualidade, que não eram conhecidos, tornar o que antes era luxo em acessível e incorporado. Já foi assim com o frango, com o iogurte, com os celulares, com as tvs de LED, com os automóveis, como podemos perceber até mesmo nosso consumo tem ganhos de escala de valor. Se nos anos 80 o plano cruzado levou o frango a todas as mesas e o real revolucionou o consumo pelo iogurte, recentemente bacalhau, massa de grano duro e azeite que eram artigos de luxo, assim como TVs de LED, smartphones, tornaram-se muito mais acessíveis.
Revista Supermix – O que pode acontecer para “piorar” ou “melhorar” as projeções para este ano?
Mauricio Bendixen – Para melhorar, se realmente houver uma mudança de verdade na economia para gerar um crescimento real e sustentável seja pela tributação, desoneração ou investimentos públicos ou privados. Toda esta situação é bem pouco provável. O governo ainda tem receio de mudar a política fiscal ou monetária. Tem preconceito em utilizar recursos privados por formação e é ineficiente para gerar crescimento por investimento público. Para piorar se houver agravamento na crise externa, hoje já não temos mais folego no mercado interno e nossas exportações tirando o agronegócio, beneficiado por fatores climáticos lá fora tem deixado a desejar.
Revista Supermix – A economia é um tema complexo. Qual a sua recomendação para o supermercadista, do de pequeno ao de grande porte, na “leitura” do que dizem os jornais e economistas?
Mauricio Bendixen – Lembrar que não estamos isolados, fazemos parte do mundo e estamos sujeitos a crise sim, porém mesmo em cenários adversos nossas empresas tem crescido e muito pelo empreendedorismo, vontade e visão. Temos ganho espaço nas dificuldades dos outros, principalmente nas falhas estratégicas dos grandes. Existe sempre a nossa micro economia e a macro economia. Vamos fazer a nossa parte muito bem feito, cuidando de nossas vendas e nossa rentabilidade. Cenários de crise se sucedem e renovam ao longo dos anos, mas a boa gestão e o aproveitamento das oportunidades que surgem tem feito a diferença, vamos lembrar que nos momentos de crise que empresas vencedoras se destacam e crescem.